quinta-feira, 18 de agosto de 2011
De todas as lembranças, as mais recorrentes sem dúvida são as da infância. Particularmente me pego transportado para épocas distantes de minha infância querida parafraseando o poeta, para aqueles tempos bucólicos de cidade provinciana que se perdeu na trama do tempo.
Lembro-me das minhas infinitas ida às bodegas. As bodegas, aqueles lugares mágicos de imagens coloridas das cordas de malvas, das rapaduras do Cariri, da cachaça do Cumbe, tabuadas, cartas de abc e de uma infinidade de bugigangas indispensáveis à vida de quem mora no Sertão.
Em toda cidade pequena que guarda o bucolismo do interior e tem cheiro de proviciano em seus jardins de cerca de ferro, tem suas casinhas térreas com as moças debruçadas nas janelas. Com seus decotes mais convidativos de que a imensidão das estradas que elas velam com tantos cuidados, seus olhos que roubam almas dos jovens desavisados que caem nos verdes mares deseus olhares.
Todas as moças das jenelas querem mais que ser amadas: no fundo querem ser desejadas e cobiçadas. Não importa a idade, são mulheres e exercitam a arte da sedução de seus sacrossantos pedestais, hipnotizando como as sereias aqueles que passam por seu território de caça.
As boiadas que eram conduzidas pelas pequenas vias empoeiradas das cidades e o gado e cavalos com seus cascos levantando nuvens de poeira que quando baixavam, os cavaleiros passavam com os olhos voltados para as janelas com cara de que não querem nada mas que na realidade querem tudo. Seja a mocinha de uma pequina casinha de taipa, a matrona dos casarões, as balzaquinas dos sobrados todas elas só querem ser o que a natureza lhe reservou: mulheres....
As paisagens mudaram nas cidades e hoje por causa da violência é quase impossível ver alguém nas janelas. Mas como era gosto e idílico as mulheres de ancas largas, decote generosos e bocas vermelhas das janelas do interior.